A internet está cheia de lixo. Facebook é um poço de ignorância intelectual, textos preguiçosos e gramática inexistente. Twitter prejudica a literatura, reconfigurando cérebros para atenção fragmentada e inabilidade para longas leituras. Messengers substituem carinho, amor e olho no olho por 😊, ❤️ e 😍. E tudo dura apenas algumas horas; a efemeridade é um viral invisível. Certa vez li no Twitter que se um dia tivemos livros com cartas de Caio Fernando Abreu e Virginia Wolf, hoje seria ridículo uma publicação com e-mails, tweets, blogs ou chats de quem quer que seja.
Mas isso foi há alguns anos e tenho certeza que, hoje, até mesmo essa pessoa rejeitaria a bobagem desse pensamento. E posso afirmar isso apenas olhando ao meu próprio redor.
Ontem, na minha timeline, Pablo Villaça deu mais uma breve aula de linguagem cinematográfica… em tweets. No WhatsApp, nos últimos meses, inclusive hoje, tenho tido intensas sessões de brainstorming com o José Rodrigo Baldin que podem definir drasticamente o destino do nosso livro, e da nossa série de TV. No mesmo app, algumas janelas abaixo, tenho o arquivo de meses de conversa que mostra duas pessoas se aproximando mesmo a 1.000 quilômetros de distância uma da outra – conversas e declarações tão significativas que renderiam um belo livro sobre filosofia, amor, existência, mortalidade, artes, política e sexualidade. No Facebook, Leo Arruda diariamente diverte e/ou desafia amigos (do mundo – inteiro – mesmo) com questionamentos e debates sobre basicamente todo tipo de assunto e transforma essas interações em algumas dezenas de wikidocs para o resto do planeta. E no Messenger ainda tenho a presença do Tiago Barreiro que, mesmo no outro hemisfério do continente e com apenas 1 interação pessoal até agora (no curso em que nos conhecemos), é hoje um dos meus melhores amigos e um jornal particular sobre Cinema e bastidores de Hollywood.
E isso é apenas analisando meu círculo pessoal de relações. Quando abro o olhar para incluir referências públicas da internet, o panorama fica impressionante.
Obras como os clipes filosóficos de Jason Silva são minidocumentários sobre inspiração (e bem inspiradores) com imenso potencial de longevidade. Os podcasts Serial, da jornalista e produtora Sarah Koening, são uma produção jornalística histórica – tanto pelo formato quanto pelo resultado: Serial expôs as inúmeras falhas de um julgamento criminal e ajudou que seu réu condenado ganhasse direito a apelação. Neste sentido, um trabalho como o da Jornada de Renata Quintella merece destaque igual pelo modo como conecta pessoas e transforma vidas, e especialmente por espalhar sentimentos de cuidado e gratidão com resultados socialmente eficientes. Em outro nível, Instagram e Twitter se tornaram plataforma de correspondentes de guerra ao redor do mundo e de astronautas na órbita do planeta publicando imagens em tempo real. Os posts de Tim Urban no impressionante blog Wait But Why deveriam ser publicados por editoras de 50 países e distribuídos em escolas. Assim como as críticas do site Cinema em Cena, o mais antigo site do gênero no Brasil, que são aulas de cinema escritas – e que, confiando na tendência de fisicalização das obras feitas para a Internet, VÃO virar livro em 2015.
Recentemente, um bilhete de Johnny Cash para June Carter foi eleito a carta de amor mais bonita de todos os tempos. Agora, tentem imaginar a janela de WhatsApp com conversas de Neil Gaiman e Amanda Palmer, ou os emails que eles trocam. Eu leria um livro com esses históricos de conversa.
A internet está cheia de lixo porque a sociedade está cheia de pessoas que compartilham e leem bobagens. E isso também acontece fora da Internet e acontecia 20, 100 e 3000 anos atrás. Não vemos porque apenas o que importa fica registrado para a posteridade.
Particularmente, vejo todos os dias pelo menos um desses registros atuais. Porque tive a sorte de encontrar pessoas inspiradoras e me esforço para me cercar de coisas que importam. Se você já cansou de gatinhos e GIFs de danças e tombos na sua timeline, acho que vai se sentir muito mais feliz escolhendo fazer o mesmo.
E enquanto não encontra coisas que te inspiram pessoalmente, por que não começa acompanhando as indicações deste post? Tem links ao longo do texto.
Um beijão e… boa inspiração, a internet pode ser linda.
Achilles de Leo
P.S.: Existe muita coisa incrível na internet brasileira, mas muito muito MUITO mais conteúdo pelo mundo afora. Se você souber ler pelo menos em inglês, já vai ampliar sua vida em um nível impressionante. Dê-se esse presente. Sério.