Denise Black foi Hazel Tyler na versão original de Queer as Folk. A personagem era mãe de um dos protagonistas, e mãezona de todo o grupo de amigos que o cercava, e era uma diva queer em Manchester, mesmo sendo mulher cis hetero. A série durou pouquíssimo tempo, tendo apenas uma temporada e meia entre 1999 e 2000, mas deixou uma forte impressão.
Em 2015, seu criador, o veterano Russel T. Davis (SIM, o homem que ressuscitou Doctor Who!) voltou aos bairros, bares e universo gay de Manchester com as séries gêmeas Cucumber e Banana – respectivamente, um drama de 1 hora centrado em um grupo específico de personagens e uma comédia de 30 minutos que passeia pela vida de pessoas aleatórias que cruzam o caminho dos protagonistas.
Em Cucumber, esses protagonistas são homens de meia idade que ainda não sabem bem onde suas vidas foram parar e mal conseguem assimilar o que e como os jovens da atualidade vivem. A série parece pregar que, se antes os gays era libertários, hoje eles são livres, e apresenta um mundo de contextos que defendem essa visão, embora, aqui e ali, o show deixe claro que em todas as gerações sempre temos homófobos e, pior do que isso, homófobos que são gays enrustidos. Esse papel é representado por dois personagens: Tomasz, um adolescente que se torna webcelebridade britânica ao fazer videos homoeróticos com amigos heterossexuais, e Daniel Coltrane, um homem mentalmente instável, talvez em função de sua sexualidade reprimida, que percorre um dos arcos dramáticos mais desconcertantes da série – um arco que termina em desmoronamento.
O que nos leva ao episódio 1.06 de Cucumber, que já considero o melhor momento da TV desde Ozymandias, e à lembrança de Queer as Folk no início do texto. Pois Davis presenteou seus espectadores mais antigos com uma participação especial que… bom, foi realmente especial.
Denise Black reprisa sua personagem 15 anos depois em uma cena que é, sem dúvidas, um dos momentos mais marcantes de Cucumber. E sua breve aparição carrega tantos significados a respeito dos personagens das duas séries, e do mundo em que eles vivem, que é difícil não se sentir afetado pela nostalgia – do que perdemos, do que não vivemos, do que temos-sabendo-que-vamos-perder. Isso vale para todo ser humano, é claro, mas há algo a mais para a comunidade gay, especialmente a que viveu os primeiros anos de libertarismo, entre 80 e 90.
E é tudo isso o que Hazel Tyler condensa em seu esforçado conselho. Sendo uma mãe heterossexual em um universo de filhos gays, ela pôde assistir a tudo com um ponto de vista privilegiado e desobstruído. E sua conclusão é que… “não” vale a pena tanto esforço para saciar aquela sede. E como podemos discordar quando sabemos quais são as consequências mais frequentes?
Mas talvez você não entendeu uma parte, Hazel. É perigoso saciar uma sede proibida. Mas foi justamente por ser proibida que essa sede surgiu. Talvez a nova geração seja mais calma e escolha o caminho de casa. Mas todos os outros… todos os outros… invariavelmente certamente escolherão o rio.