Somos todos THE LEFTOVERS – Uma reflexão sobre o reboot criativo e simbológico da série

A segunda temporada de THE LEFTOVERS estreou domingo passado na HBO e só então o canal revelou que a série foi cancelada lá na primeira temporada. Sim, porque o que temos neste segundo ano não é a mesma The Leftovers que assistimos ano passado. Chegaram a anunciar que a produção passaria por um reboot criativo e que isso seria por dois motivos: a primeira temporada abrangeu quase todo o livro de Tom Perrotta, no qual é inspirada, e a audiência não parecia muito cativada. O que os produtores fizeram com a série, porém, ainda não está muito bem definido. De um lado, o primeiro episódio evocou sentimentos similares aos que tínhamos antes (o que é um alívio); de outro, o roteiro parece estar abrindo caminho para um suspense ou estudo de personagem similar ao de The Walking Dead (o que é uma preocupação gigantesca).

Contudo, o tal “reboot criativo” vai ainda mais longe do que apenas mudar o tom da narrativa. Ao que parece, The Leftovers atualizou também o próprio simbolismo que conduz sua trama.

the-leftovers-redencion-103Para quem não conhece, a série começou mostrando o cotidiano dos moradores de uma cidadezinha norte-americana três anos após um evento global sobrenatural: certo dia, 2% da população mundial simplesmente desapareceu. O fenômeno parecia ser a concretização do famoso Arrebatamento descrito na Bíblia Sagrada, exceto pela parte que entre os arrebatados não estavam apenas “fieis da Palavra de Deus”, mas todo tipo de pessoa, desde adoráveis menininhas de oito anos ou carinhosos pais até terroristas, assassinos e estupradores. A trama de The Leftovers, porém, nunca se preocupou em investigar o mistério, e sim em acompanhar os efeitos emocionais e psicológicos sofridos por aqueles que ficaram, os “leftovers” (“restantes”) do título.

Agora, no segundo ano, seguimos os protagonistas da temporada anterior que decidiram deixar para trás sua sofrida e perturbada cidade e se mudar para outra: Miracle é uma das raras cidades nos Estados Unidos de onde nenhum morador foi arrebatado. Por conta disso, é considera um lugar abençoado e, como não poderia ser diferente, é povoada e visitada por pessoas profundamente religiosas. Para fortalecer a mística da região, a cidade está situada em cima de uma leve falha sismológica que causa pequenos tremores com certa recorrência.

UntitledÉ com um desses terremotos que o episódio abre sua narrativa, mas no que parece ser 20 ou 30 mil anos no passado, quando o homo sapiens ainda vivia em cavernas. E é esta sequência de abertura (especialmente quando somada à cena final do episódio) que sintetiza o reboot simbológico que The Leftovers preparou para este segundo ano.

Não precisamos de um fenômeno em escala global para lidar com a perda repentina de toda a nossa comunidade ou mesmo de apenas uma pessoa que amamos. Desde o início dos tempos, a Perda é o grande fenômeno que assola a humanidade, e muitas, muitas, muitas vezes a partida é assim: completamente repentina. Você só precisa piscar e…

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Quando assisti a primeira temporada de The Leftovers, fui pego de surpresa por um sentimento estranho. Eu tinha uma vontade constante de abraçá-los e chorar com eles. De verdade. Durante dez semanas, mergulhei em um estado emocional tão à flor da pele que bastavam os primeiros acordes do tema musical que eu já sentia vontade de chorar. Eu amava profundamente aquelas pessoas. E esta segunda temporada ameaçou tirar todas elas de mim. A ameaça (ou aviso, talvez seja justo dizer) ainda não aconteceu, mas agora espero estar preparado porque – se a série for honesta com a própria premissa – não vai demorar.

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